sexta-feira, 29 de julho de 2011



Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.

Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.

"Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo". Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o principio, é o nosso conceito do mundo.

É em nós que as paisagens tem paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como ás outras. Para que viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e gênero das minhas sensações?

A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.

Fernando Pessoa
Livro do Desassossego

quarta-feira, 27 de julho de 2011


SE EU FOSSE UM PADRE

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

Mario Quintana

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A PROCURA DE OSÍRIS




Em mim há muitas divisões
Por dentro sinto-me complexo
Creio em ideais, cedo a paixões,
Pedaços desligados, desconexos.

Mas há algo em mim que reclama
Sua origem ancestral,
O que trago de divino, minha chama
Sua certeza e seu sinal.

Esse meu Eu que me falta
É como o antigo e belo mito
Que inspira e exalta
Nosso Ser infinito.

Um Deus espalhado pelo mundo
Em todos e em tudo impregnado.
No mais distante, no mais profundo
O Uno que se mostra separado.

Mas sei que Isis em mim habita
E ronda as terras do grande Nilo,
A procura de um Osíris despedaçado
Que me incita a reuni-lo.

Juliana Limeira
Sede Nacional

sexta-feira, 22 de julho de 2011




Atenção Membros de Nova Acrópole - Brasil Norte:
Participem da IV edição do concurso "Letras da Primavera".
Informem-se nas filiais.
Inscrições: grupocaliope@gmail.com

Obs.: O resultado do concurso será postado aqui.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Missão do Poeta



A mais doce missão é a do poeta
Buscando nos adjetivos, a maneira certa
A frase ideal, a expressão correta
Faz de si um garimpeiro das palavras
Que procura no íntimo de sua caverna
O que não perdeu...
Sua Alma Eterna.

Pra inspiração está sempre alerta,
Calíope, a musa aliada, é guia do poeta.
Destila a emoção, peneira o sentimento.
Faz dele um holocausto libertando-o ao vento
Então, no auge da Primavera da criação...
No equinócio bendito desta estação
Uma nuvem no ar do silêncio se faz presente
Qual chuva generosa em dia quente.
Formando rimas que do céu caem à terra
Libertando para toda gente
O Amor que a Alma Poeta encerra.

Wilson Trannin
Filial Cuiabá

sexta-feira, 1 de julho de 2011

UM PAPEL EM BRANCO



Tenho, diante de mim,
Um papel em branco
E a delicada tarefa
de derramar sobre ele
Algo que não seja pranto

Ah, papel, não espere lindos versos !
A saudade segura a caneta e minha mão vibra
Não é tão fácil quanto parece !
Há um mistério entre meu coração e a tua fibra...

Ironia do destino
A um só tempo fera e rouxinol
Eu, poetizar sobre um homem,
Que um dia me pediu para que eu fosse o sol...

Mestre generoso, amor sem reservas
Deixou-me um enigma depois de ir embora:
Como saber o que é vida e o que é morte
Se o sinto mais vivo em mim justo agora ?

Palavras, frases, versos e rimas
Preenchem seu espaço, percebe, papel ?
E até mesmo você que era um simples vazio
Agora é mais pleno
Por ele...Michel...


Alice Fátima
Nova Acrópole - Recife