sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Grande Sede


Se tens sede de Paz e d'Esperança,
Se estás cego de Dor e de Pecado,
Valha-te o Amor, ó grande abandonado,
Sacia a sede com amor, descansa.

Ah! volta-te a esta zona fresca e mansa
Do Amor e ficarás desafogado,
Hás de ver tudo claro, iluminado
Da luz que uma alma que tem fé alcança.

O coração que é puro e que é contrito,
Se sabe ter doçura e ter dolência
Revive nas estrelas do Infinito.

Revive, sim, fica imortal, na essência
Dos Anjos paira, não desprende um grito
E fica, como os Anjos, na Existência.

Cruz e Sousa

Muito se fala de Paz e Esperança no final de cada ano, eis um soneto de Cruz e Sousa para aqueles que as buscam. Feliz 2011!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

SONETO DE NATAL


Um homem, — era aquela noite amiga,

Noite cristã, berço no Nazareno, —

Ao relembrar os dias de pequeno,

E a viva dança, e a lépida cantiga,


Quis transportar ao verso doce e ameno

As sensações da sua idade antiga,

Naquela mesma velha noite amiga,

Noite cristã, berço do Nazareno.


Escolheu o soneto... A folha branca

Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,

A pena não acode ao gesto seu.


E, em vão lutando contra o metro adverso,

Só lhe saiu este pequeno verso:

"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Machado de Assis

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O homem; as viagens

O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte
ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro
diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto
é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Soldado Discípulo



Nobre soldado,
olhe a parte divina
do teu semelhante.

Sem assombro,
cortar-te a própria capa
aqueça a alma pedinte.
 
Reconheça o ocaso
de um inverno cinza,                                   
a dissipar-se na irmandade.
 
Contempla-te o espelho
da imutável leveza
da generosidade.
 
Revigore o esquálido,
com tua iniciativa
apreendida de teu MESTRE.
 
Sejas o desconhecido
que sustenta a pátria,
da mão que a outra se une.


Jonny Sousa Brito
Aluno do Curso de Filosofia e da oficina de poesia
Nova Acrópole - Guará


Poema feito em homenagem ao dia 11 de novembro:


- Dia de São Martinho: Martinho era um soldado romano que vendo um mendigo com frio na chuva, com a espada cortou sua capa e deu parte dela ao mendigo. Parou de chover.

- Dia do Soldado Desconhecido: se homenageiam aqueles que morreram pela Pátria e não puderam ser identificados ou resgatados.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A PALAVRA MÁGICA

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
A senha do mundo
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ler poesia é uma arte


"Não basta saber ler para ler poesia. Ler poesia é uma arte. Exige que o leitor se coloque numa posição especial de alma. O segredo da poesia está na música da leitura. Mais do que uma arte: é um ato de bruxedo. O leitor invoca um mistério que se encontra nos interstícios das palavras do poeta. Essas palavras estão dentro dele mesmo. O poema faz-me ouvir um poema que está dentro de mim. Esse poema que está dentro de mim é um pedaço de mim."
Rubem Alves