sexta-feira, 3 de setembro de 2010

À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.

Miguel Torga, in 'Odes'



Como sempre à Beleza.
Aguardem semana que vem as poesias vencedoras do Concurso de Poesia dos Jogos da Primavera.
Marluce Claudia

2 comentários:

  1. Bela poesia. Do título à última linha...
    Não sei se os fãs do blog podem fazer pedidos, mas vá lá: que tal as poesias do Concurso de Primavera? Abraços.

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  2. Ainda estamos aguardando as poesias vencedoras na Festa da Primavera!

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